Cantinho de Prosa

A bem dizer, chamo-me Paulo Sérgio ou Paulinho como gostam de chamar meus amigos. Resolvi criar esse cantinho para prosar as coisas e pessoas desse mundo. Quem sabe não começamos uma conversa?

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Location: Araraquara, São Paulo, Brazil

Nascido em Campos dos Goytacazes-RJ e residente em Araraquara-SP. Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP).

Tuesday, January 02, 2007

Nota sobre a violência urbana e as drogas

Tenho tentado acompanhar esse estado de coisas pela TV e pelos jornais impressos. Uma coisa, não tão recente, é a recorrência do terrorismo no discurso oficial e nas falas de alguns ditos "especialistas" em violência.
A primeira vez que lembro ter ouvido essa expressão associada ao tráfico de drogas foi sob o rótulo "narco-terrorismo" quando da intensificação dos conflitos deflagrados entre as FARC, governo colombiano e grupos paramilitares nele instalados, lá pelos idos de 1998, expressão essa nascida provavelmente de alguns ideólogos do Pentágono.
Não quero fazer deste exemplo uma evocação ingênua de reclames anti-americanos mas creio que o debate sobre a violência e as drogas deve ser sustentado numa escala de análise geopolítica.
As formas de controle social que viabilizem relações legítimas de produção, distribuição e consumo de drogas são afeitas e afetadas, talvez, pelos mesmos mecanismos que as difundem globalmente: instrumentos de comunicação virtual, lobbies, armas e dinheiro. E por debaixo de todo este império vige um império ainda maior: o "império dos sentidos", a difícil e intricada relação entre prazer e repressão sublimada.
Todos queremos nos civilizar mas quase sempre não desejando de pronto o "mal-estar da civilização".
O mais problemático disso tudo, ao meu ver, é a formação de um consenso alimentado por ignorância que toma a sociedade de forma dual – bandidos e não-bandidos –, obscurecendo a trama que parece fundir medo opressivo e silêncio público, estendo a eliminação do "bandido" ao uso indiscriminado da força nos ambientes nos quais estes supostamente se (de)formam: as comunidades de baixa renda situadas no interior e nos grandes centros urbanos, integradas marginalmente ao mercado de trabalho e à sociedade de consumo que suscita expectativas imediatas de fruição de bens individuais contrastantes com o preenchimento das condições básicas de existência: moradia salubre, alimentação regular, transporte e lazer universalizáveis e outras.
Não tenho opinião formada sobre a legalização das drogas. Sei que algumas drogas, para além do álcool, já sofrem um aceite alvissareiro por amplas camadas da população, até mesmo das mais "esclarecidas". Falo aqui principalmente da maconha, também chama de brenfa ou boldinho.
O prazer é uma dimensão de hoje e sempre na vida humana, mas também é um fenômeno histórico que implica, necessariamente, o reconhecimento de sua organização social em condições assimétricas: mais-prazer para alguns e mais-repressão para a maioria.
Dizer tudo isso, talvez, não seja tão óbvio, se considerado o recurso aos alucinógenos como auto-alienação de uma vida não vivida para si. Lendo e debatendo "Eros e Civilização" (Herbert Marcuse, 1964) aprendi que liberalidade dos costumes não é, necessariamente, sinônimo de liberdade política. A sublimação dos instintos (ou pulsões) reside conteúdos potencialmente criativos - a fantasia, única faculdade humana não redutível ao tabu da consciência.
Do ponto de vista de nossa formação, talvez possamos entender fantasia como associada à "imaginação sociológica" ou à atividade estética dos inúmeros intérpretes e reinventores do cotidiano.

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