Cantinho de Prosa

A bem dizer, chamo-me Paulo Sérgio ou Paulinho como gostam de chamar meus amigos. Resolvi criar esse cantinho para prosar as coisas e pessoas desse mundo. Quem sabe não começamos uma conversa?

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Location: Araraquara, São Paulo, Brazil

Nascido em Campos dos Goytacazes-RJ e residente em Araraquara-SP. Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP).

Monday, July 31, 2006

Sobre o estar no mundo...

Fragmento íntimo

Eu e o mundo
Eu no mundo
Meu mundo
Teu mundo
Todo mundo
Calando fundo
Eterno assunto
Poema inconcluso
Que se perdeu ...

(31 / 03 / 20h53)

Uma ode à metafísica do eterno

Meu tempo

Tempo
Caudal infinito
Tormenta invencível
Que nos toma por inteiro
Leva consigo a luz e a espada.
Não cabes em nenhuma conta
Toda métrica lhe soa inútil
Seus dias e horas nos sufocam
Como uma despedida sem retorno.
Seus arautos invisíveis
Conduzem-nos à guerra e ao sonho
(Estaremos acordados em nosso tempo?).
No caminho dominado por suas hordas
Busco pouso no acaso da memória,
Nos seus silêncios e ferros,
Nos passos ciosos de outros passos,
Na espera viva do prosseguir.

(17 / 04 / 05; 11h26)

Sunday, July 30, 2006

Discurso de formatura da turma de Ciências Sociais (UENF) em 2006

Sob inspiração de tudo aquilo que subjaz as agruras e venturas de mais de quatros de convício na graduação escrevi esse discurso de formatura, lido e ouvido sob vaias de alguns e acenos favoráveis de outros em abril desse ano em nome dos formandos em Ciências Sociais da UENF:

Gostaria de saudar a todos os formandos nessa noite, aos seus familiares, amigos e namorados, aos professores e funcionários da UENF. É com muita honra que falo em nome da turma de formandos em Ciências Sociais de 2006.
Por dever de ofício devo me colocar do ponto de vista da nossa formação.
É irônico que somente no dia de hoje se assegure previamente tempo para os estudantes expressarem idéias e opiniões. Essa situação parece não ter sido facilitada com tanta reverência nos anos de graduação. Talvez por conta do ridículo coeficiente eleitoral que anula na prática a representação discente em processos decisórios na Universidade. Na Universidade vige o monopólio das decisões políticas e administrativas exercido por professores que é também um monopólio da fala. Este duplo monopólio não é resumido à frieza de procedimentos burocráticos porque instituições nada mais são que pessoas portadoras de valores e interesses que agem em determinadas relações sociais dotadas de certa regularidade no tempo e no espaço, conforme aprendemos logo nas primeiras aulas de sociologia e antropologia. Ora, ser porta-voz de um grupo de estudantes nesse teatro não é exceção à regra já que esta ação é prescrita regimentalmente, revelando o que dizem meus colegas da Ciência da Educação sobre as regras tácitas do currículo oculto da Universidade, aquele que ninguém vê mas todos o sentem.
Mais importante ainda é o que os códigos de poder estruturados nessas regras apontam para um impasse na Universidade: a difícil comunicação entre duas gerações: a geração pós-64 e a geração pós-84. A redemocratização dá apenas os seus primeiros passos na Universidade brasileira já que a própria Reforma Universitária de 68 – que dentre outras mudanças extinguia a cátedra – parece não ser entendida ainda com lucidez. São laboratórios dirigidos como se fossem departamentos quando deveriam ser, conforme diz o Plano Orientador da UENF, um espaço de interação de estudantes e pesquisadores associados em grupos de pesquisas científicas e de extensão que poderiam e podem operar um diálogo criativo entre laboratórios e centros de ensino e pesquisa, favorecendo a própria revisão de pressupostos e hipóteses em formas de conhecimento inéditas no cenário científico nacional e internacional. Conhecimento é reunião de vozes onde todos sabem muito de pouco e pouco de muito. A realidade em sua objetividade é multidimensional, não pode ser encarcerada em uma redoma, embora a divisão de saberes seja reproduzida acriticamente na rotina alienada da produção científica.
Se os próprios números e os cálculos até hoje conhecidos não deixam de ser idéias de força, velocidade, quantidade e demais atributos das condições de existência – a famosa phisis dos primeiros filósofos -, estas são também representações, modos de conceber o próprio pensar e agir humanos cuja conseqüência social e ambiental requer um tratamento discursivo para além da linguagem padronizada em instrumentos tecnológicos. Não quero defender um lugar privilegiado para as ciências sociais mas simplesmente afirmar que entre a técnica e o sonho Darcy Ribeiro e muitos dos construtores mais generosos da UENF não partiram de escolhas unilaterais. As ciências sociais sabem que o confronto entre as muitas vertentes que compõem seu estatuto epistemológico permitem que nós estejamos permanentemente vinculados com um primeiro mandamento da prática científica: perguntar se realmente está se fazendo ciência. O objeto das ciências sociais é também sujeito que fala e muitas vezes grita. Não me valho de nenhum demérito às ciências da natureza porque suas melhores cabeças discutem atualmente com ousadia as implicações da subjetividade no conhecimento científico apontando caminhos promissores em seu encontro com as próprias ciências sociais. Encontro não, melhor, reencontro.
O problema da UENF talvez possa ser traduzido como fome e desejo. Fome como falta de um aporte público que capacite a Universidade a permanecer de pé, subsidiando a manutenção e ampliação dos seus prédios e laboratórios, tornando evidente que uma política estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação não pode ser conduzida conforme circunstâncias da sucessão de governos mas, sim, como uma verdadeira política de Estado. Desejo como busca de espaço, luz e movimento que nos possibilitem não apenas viver mas principalmente nos sentirmos vivos em tudo que fazemos, falamos e pensamos. Nós, estudantes, expressamos esse desejo em iniciativas tais como o I Festival de Arte Poiese e os protestos diante da demissão do Estado para com a Universidade Pública, sofrendo diretamente os abusos de poder do braço armado desse mesmo Estado. Mas o que nos comove e nos revolta é algo que antecede a lei: é o exercício de um contra-poder: a liberdade. Na conquista de seus próprios meios de expressão e ação os estudantes se fazem solidários a todos os povos da terra, revelando que o conhecimento é o sangue, o suor e as idéias de todas as ideologias e utopias.
Saber do que tenho fome e do que desejo ajuda a responder qual é o sentido da UENF e das próprias ciências sociais em Campos dos Goytacazes e no Brasil. Sinto fome e desejo da Escola de Cinema e da Faculdade de Educação previstas no Plano Orientador da UENF; sinto fome e desejo do Teatro, das Letras, da Filosofia; sinto e fome e desejo de um espaço de convivência, do alojamento estudantil, do bandejão e de um jardim no campus; sinto fome e desejo do magistério em nossa formação; sinto fome e desejo da Licenciatura em Ciências Sociais na UENF. A acusação feita por alguns de que estudantes de ciências sociais “apenas” lêem e escrevem só confirmam o estranhamento mútuo envolvendo o campo da pesquisa científica e tecnológica e o campo do ensino, impondo não somente às ciências sociais mas a todos os setores da educação e da sociedade em geral uma reação à tendência de desvalorização econômica e simbólica do magistério que repercute objetivamente no acesso do estudante à Universidade Pública e ao mundo do trabalho e da cidadania. Na UENF há muitos pesquisadores e ainda poucos educadores. Apropriar-se cientificamente da fala e da escrita é tarefa que requer método pedagógico que apesar de muitos professores não desejarem lhes fazem muita falta.
Por fim tudo que disse aqui é tributário da excelente formação que tive nesta Universidade, onde reconheço ter aprendido muito com professores que hoje são também meus amigos, professores que fizeram e fazem jus à autoridade que lhes cabem ensinando aos estudantes não somente as bases do método científico em suas diversas especialidades mas, principalmente, a responsabilidade inerente àquela autoridade que não concede inculcar verdades infundadas e disposições autoritárias na formação científica. Hoje são apresentados à sociedade não jovens de menos de 20 anos mas homens e mulheres que não se submetem às incertezas e ilusões típicas de nossa época porque aspiram à condução autônoma de seu destino, reconhecendo a si mesmos como co-responsáveis da universidade e do país em que vivem. Um dia muitos desses formandos retornarão a UENF como professores e pesquisadores e espero que no seu íntimo haja espaço para aquele menino e menina de menos de 20 anos sorrir o sorriso do amor que como uma revolução vige em estado de promessa no coração de cada homem e de cada mulher.
Obrigado pela atenção de todos a esse iluminista que persiste em acreditar na ciência porque acredita em uma nova sociedade. Obrigado a todos.

Para pensar o ofício do sociólogo

Essa frase do sociólogo francês Pierre Boudieu nos é muito cara, pois suscita pensar a responsabilidade social do pensar e agir sociológicos:
"O fato de se pertencer a um grupo profissional exerce um efeito de censura que vai muito além das coações institucionais e pessoais: há questões que não são colocadas, que não podem ser colocadas, porque trocam nas crenças fundamentais que estão na base da ciência e do funcionamento do campo científico". (Bourdieu, Pierre. In: Coisas ditas, 1987, Ed. Brasiliense)

O começo do começo

A bem dizer, chamo-me Paulo Sérgio ou Paulinho como gostam de chamar meus amigos. Resolvi criar esse cantinho para prosar as coisas e pessoas desse mundo. Quem sabe não começamos uma conversa?