Cantinho de Prosa

A bem dizer, chamo-me Paulo Sérgio ou Paulinho como gostam de chamar meus amigos. Resolvi criar esse cantinho para prosar as coisas e pessoas desse mundo. Quem sabe não começamos uma conversa?

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Location: Araraquara, São Paulo, Brazil

Nascido em Campos dos Goytacazes-RJ e residente em Araraquara-SP. Sociólogo e Mestre em Políticas Sociais (UENF). Doutorando em Sociologia (UNESP).

Wednesday, January 03, 2007

Polêmica na regulamentação do ensino de Sociologia e Filosofia no ensino médio


O Estado de Sao Paulo 25/12/2006
Ano começa com indefinição sobre filosofia e sociologia
Norma nacional pede a volta das disciplinas, mas escolas ainda não sabem como aplicá-la
Igor Giannasi
A norma entra em vigor em agosto de 2007, mas ainda não se sabe ao certo se as escolas de São Paulo seguirão a determinação de ensinar filosofia e sociologia aos alunos do ensino médio. Um parecer do Conselho Nacional de Educação, de 11 de agosto, determinou o prazo de um ano para que as escolas do País planejem a implantação dessas disciplinas. Mas, recentemente, um documento do Conselho Estadual de Educação (CEE) paulista causou confusão entre instituições de ensino e entidades de classe, dando margem à interpretação de que o conselho desobrigava a inclusão das disciplinas no próximo ano. Para piorar a situação, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp), que representa escolas particulares, é contrário à ampliação da grade.
“O Conselho Nacional de Educação está engessando os estabelecimentos de ensino”, critica o presidente da entidade, José Augusto de Mattos Lourenço. Tanto o Sieeesp quanto o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) receberam diversas consultas de instituições querendo saber se deveriam ou não aplicar as disciplinas. “Muitas escolas que já tinham essas aulas estavam querendo tirar filosofia e sociologia da grade e só retorná-las em 2008”, afirma o presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro de Castro.
No documento, o CEE pronuncia-se “pela não obrigatoriedade da introdução de filosofia e sociologia no currículo das escolas de ensino médio, no âmbito de sua jurisdição, no ano de 2007 (...) pela rede pública estadual, bem como, pelas escolas da rede privada de ensino”.Segundo o presidente do conselho, Pedro Salomão José Kassab, a indicação serviu para esclarecer que as escolas não teriam a obrigação de começar as aulas já em 2007.
“É uma enormidade estarem falando que o conselho não quer ensinar sociologia e filosofia”, defende-se. No entanto, mesmo que recomendasse às escolas a não inclusão das disciplinas, o parecer do Conselho Nacional seria soberano sobre a indicação. “Nenhum conselho dos Estados brasileiros pode ignorar ou recomendar que se ignore um parecer nacional”, diz o conselheiro César Callegari, um dos relatores do parecer. “São Paulo não é um Estado em que uma decisão como essa fique despercebida.”
Recentemente, representantes dos conselhos nacional e estadual se reuniram e, segundo Callegari, ficou claro que o documento paulista era só uma orientação às escolas. Ele explica que, até a data definida pelo Conselho Nacional de Educação, as escolas devem apresentar os parâmetros de como irão se adaptar à norma. E, segundo ele, o parecer não estabelece uma data para a inclusão da sociologia e da filosofia no currículo e sim que esse prazo deve ser especificado no planejamento de cada escola.
Essa interpretação, porém, não é compartilhada pelo presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Paulo Roberto Martins. “Em agosto de 2007, aquelas instituições que não tiverem colocado as disciplinas, que o façam.” Além do aumento dos custos com a contratação de professores dessas áreas, o presidente do Sieeesp questiona se haverá profissionais habilitados para suprir a demanda que irá surgir. Segundo Martins, estima-se que 800 professores da matéria se formam a cada ano no Estado.
POLÊMICA ANTIGA
A questão de filosofia e sociologia no ensino médio é uma polêmica que dura alguns anos. Em 2001, o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso vetou um projeto de lei que pedia a volta das duas disciplinas, alegando falta de professores para dar as aulas nas escolas.Callegari suspeita que a aprovação da indicação do conselho estadual seja, aparentemente, uma manifestação dos interesses das escolas privadas. Já uma fonte que não quis se identificar e fez parte do Conselho Nacional de Educação nos últimos anos do governo FHC e no início do governo Lula, mesmo favorável à inclusão das duas disciplinas no currículo do ensino médio, afirma que não houve uma argumentação teórica para dar suporte ao parecer. A aprovação teria sido resultado de um lobby feito por representantes dos professores de filosofia e sociologia.
Ivone Bengochea www.pensareedu. com
www.pensare- pensare.blogspot .com
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Tuesday, January 02, 2007

Nota sobre a violência urbana e as drogas

Tenho tentado acompanhar esse estado de coisas pela TV e pelos jornais impressos. Uma coisa, não tão recente, é a recorrência do terrorismo no discurso oficial e nas falas de alguns ditos "especialistas" em violência.
A primeira vez que lembro ter ouvido essa expressão associada ao tráfico de drogas foi sob o rótulo "narco-terrorismo" quando da intensificação dos conflitos deflagrados entre as FARC, governo colombiano e grupos paramilitares nele instalados, lá pelos idos de 1998, expressão essa nascida provavelmente de alguns ideólogos do Pentágono.
Não quero fazer deste exemplo uma evocação ingênua de reclames anti-americanos mas creio que o debate sobre a violência e as drogas deve ser sustentado numa escala de análise geopolítica.
As formas de controle social que viabilizem relações legítimas de produção, distribuição e consumo de drogas são afeitas e afetadas, talvez, pelos mesmos mecanismos que as difundem globalmente: instrumentos de comunicação virtual, lobbies, armas e dinheiro. E por debaixo de todo este império vige um império ainda maior: o "império dos sentidos", a difícil e intricada relação entre prazer e repressão sublimada.
Todos queremos nos civilizar mas quase sempre não desejando de pronto o "mal-estar da civilização".
O mais problemático disso tudo, ao meu ver, é a formação de um consenso alimentado por ignorância que toma a sociedade de forma dual – bandidos e não-bandidos –, obscurecendo a trama que parece fundir medo opressivo e silêncio público, estendo a eliminação do "bandido" ao uso indiscriminado da força nos ambientes nos quais estes supostamente se (de)formam: as comunidades de baixa renda situadas no interior e nos grandes centros urbanos, integradas marginalmente ao mercado de trabalho e à sociedade de consumo que suscita expectativas imediatas de fruição de bens individuais contrastantes com o preenchimento das condições básicas de existência: moradia salubre, alimentação regular, transporte e lazer universalizáveis e outras.
Não tenho opinião formada sobre a legalização das drogas. Sei que algumas drogas, para além do álcool, já sofrem um aceite alvissareiro por amplas camadas da população, até mesmo das mais "esclarecidas". Falo aqui principalmente da maconha, também chama de brenfa ou boldinho.
O prazer é uma dimensão de hoje e sempre na vida humana, mas também é um fenômeno histórico que implica, necessariamente, o reconhecimento de sua organização social em condições assimétricas: mais-prazer para alguns e mais-repressão para a maioria.
Dizer tudo isso, talvez, não seja tão óbvio, se considerado o recurso aos alucinógenos como auto-alienação de uma vida não vivida para si. Lendo e debatendo "Eros e Civilização" (Herbert Marcuse, 1964) aprendi que liberalidade dos costumes não é, necessariamente, sinônimo de liberdade política. A sublimação dos instintos (ou pulsões) reside conteúdos potencialmente criativos - a fantasia, única faculdade humana não redutível ao tabu da consciência.
Do ponto de vista de nossa formação, talvez possamos entender fantasia como associada à "imaginação sociológica" ou à atividade estética dos inúmeros intérpretes e reinventores do cotidiano.